Tentações - 1ª Parte
Como é do vosso conhecimento desafiei uma frequentadora desta tasca (JG) a contar a sua história pessoal... quer dizer... Melguei-a até ao tutano, e ela fartinha de me aturar... Lá aceitou... Eheh!! Não se esqueçam que se trata apenas da primeira parte...
E como eu sei que são uma cambada de cuscos aqui vai a história.
"Sempre fui uma miúda tímida. Sempre tive complexos... na adolescência por achar que tinha as pernas muito magras, era incapaz de vestir uma saia. Usava óculos, aparelho nos dentes... e apesar de todas as minhas amigas fazerem sucesso no seio da classe masculina da mesma faixa etária, e mesmo sendo eu das raparigas que melhor se dava com os rapazes, acho que sempre me considerei um patinho feio. Dava-me bem com os rapazes mas sempre achei que era porque comigo eles não tinham interesse em namorar, e daí verem-me como uma amiga.
Quando entrei para a universidade, tinha deixado de usar os óculos e o aparelho nos dentes à pouco tempo, tinha mudado de visual, tinha começado a gostar um pouco mais de mim, e comecei a ter alguma auto-estima. Ouvia piropos na rua, e até comecei a pensar que se calhar não era assim tão feia! LOL! No que toca a rapazes, continuava muito aquém das minhas amigas. Namorado nunca tinha tido, pelo que a minha experiência se resumia a uma meia dúzia de curtes, que curiosamente aconteceram todas depois da tal mudança de visual :)
Na faculdade conheci o Luís. Ele e o Manel eram melhores amigos, tinham entrado no ano anterior, e eram na altura membros da comissão de praxe. Engraçaram logo comigo e com a Ana. Andávamos juntas na escola desde o 10º ano e entrámos juntas para universidade. Fizemos logo sucesso no meio académico, tornando-nos das miúdas que melhor se davam com o pessoal mais velho, os veteranos! O Luís e o Manel andavam sempre juntos, e eram... mesmo muito giros! Nós reparámos neles logo no primeiro dia que fomos à universidade, mas ambas achámos que era "areia a mais para a nossa camioneta". Eles eram bastante assediados pelas tipas mais velhas, e tanto um como outro passavam a vida em borgas nocturnas, para as quais nós não conseguíamos obter permissão caseira para participar. Ainda assim... suspirávamos em segredo, fazendo confidências apenas entre nós.
Curiosamente, fomos estreitando a nossa relação com aqueles dois... e ao fim de dois ou três meses, o Luís convidou-me para almoçar. Eu continuava a achar que aquilo não me estava a acontecer, mas claro que ia almoçar com ele! Os almoços foram-se repetindo, cada vez com mais frequência, até que um dia o Luís beijou-me. Desde esse dia começámos a almoçar todos os dias juntos, mas sem que se tornasse público na universidade que tínhamos uma relação. Duas semanas depois do beijo, fizemos amor. Foi a minha primeira vez, e recordo que não foi propriamente aquilo com que tinha sonhado. Ele já tinha bastante experiência e eu nem sabia "onde é que devia pôr as mãos!"LOL!
Foi nessa altura que a nossa relação se tornou pública. Ele começou a ir buscar-me a casa aos fins de semana, os meus pais suspiravam achando que ele só queria divertir-se e que eu era apenas mais uma, os colegas mais velhos da faculdade começaram a prevenir-me sobre ele... dizendo que não era homem de uma mulher só, que me ia trair e me ia abandonar assim que se fartasse... mas nada nem ninguém me demoveram. Se me traiu eu nunca o soube, e também... antes assim. Eu estava apaixonada! Pela primeira vez na vida estava apaixonada por um gajo bem giro, e que queria mais do que apenas uma curte.
Os primeiros anos do nosso namoro, apesar de correrem muito bem, tiveram sempre sombra das ex-namoradas. Porque ele sempre foi de manter amizade com elas, porque ele tinha uma experiência de vida e sexual que eu não tinha... porque isso de alguma forma de causava insegurança. Sempre achei que um dia ele se ia de facto fartar e ia largar-me e partir para outra. A Ana e o Manel foram continuando amigos, mas nunca se passou nada entre eles. O Manel tinha pavor de ser o responsável por lhe tirar a virgindade, tinha medo que ela se apaixonasse... e dizia não estar preparado para corresponder. Felizmente (ou não) o Luís não teve esse medo! LOL
Os anos foram passando e eu e o Luís cada vez tínhamos uma relação mais forte, mais próxima. Já conhecíamos a família um do outro, frequentávamos a casa um do outro, estávamos juntos a toda a hora. Acho que me tornei dependente dele. Quando acabámos os nossos cursos e começámos a trabalhar, deparámo-nos com uma distância geográfica que nos impedia de nos vermos todos os dias... e como ambos conseguimos uma situação profissional minimamente estável, resolvemos começar a procurar casa.
Encontrámos a casa dos nossos sonhos. Ou mais até do que tínhamos sonhado. Era grande, por isso o nosso desejo de ter três filhos podia ser concretizado sem que fosse necessário mudar de casa a correr, ela linda... era mesmo aquela! Ainda procurámos mais, vimos muitas mais, mas era aquela. Decidimos comprá-la. Um dia, menos de um ano após a compra da casa, o Luís disse-me que queria combinar um jantar com ambos os pais, para que se começassem a conhecer melhor... e eu concordei. Jantámos, e quando foi pedida a conta, ele tira uma caixa do bolso, e à mesa do restaurante em frente a toda a gente... pediu-me em casamento. Confesso que não o esperava, pelo menos não assim... mas disse que sim com a cabeça sem sequer me sair um som. Tinha na altura 22 anos. Acho que até então, não tinha visto a compra da casa e das coisas que já tínhamos entretanto comprado para a casa, com tanta seriedade. Casar... eu queria casar, afinal é isso que toda a gente faz... acabam-se os cursos, arranja-se emprego, casa-se, tem-se filhos... sim... era isso que eu queria para a minha vida.
Passado um ano e meio, casámos. Foi um casamento lindo. Ainda hoje é o dia que oiço pessoas dizerem-me que nunca foram a um casamento tão bonito como o nosso. Mesmo assim, mesmo com a minha vida transformada em conto de fadas, casei insegura, incerta do que estava a fazer.
Uns meses antes do casamento, depois de um jantar de amigos em minha casa (com os meus pais fora do país e o Luís a trabalhar), envolvi-me com um amigo de longa data... eu sentia-me atraída por ele e ele por mim... e depois de todos irem embora... acabámos por nos beijar... e fazer amor. Ou melhor, sexo, apenas sexo puro e duro. Apenas a satisfação de um desejo carnal. Nunca entendi muito bem porque tinha deixado que isso acontecesse... mas mais tarde esse amigo disse-me que achava que eu não devia casar-me, que não era isso que eu verdadeiramente queria. Na altura interpretei a opinião dele como um reflexo de um eventual interesse em mim... mas mais tarde as palavras dele tomaram outro sentido. No próprio dia do meu casamento, ele veio ter comigo a minha casa, viu-me vestida de noiva, deu-me um beijo na testa e disse apenas "estás linda..." e saiu... Este sempre foi o nosso segredo, meu e dele. Apenas a minha melhor amiga sabia do que se tinha passado, pois na noite em que aconteceu ela ficou a dormir em minha casa.
Mas voltando ao casamento, casámos, e começámos a nossa vida a dois. De início com alguns atritos por pequenas coisas do dia a dia. Eu sempre a querer tudo arrumado e limpo, hiper organizada, e ele habituado a ter uma mãe que lhe fazia tudo... não foi fácil, mas superámos. Cerca de um ano depois de casarmos decidimos que estava na altura de começarmos a tentar ter filhos. Foram feitos todos os exames médicos e análises necessários, e após a confirmação de que tudo estava bem, deixei de tomar a pílula.
O tempo foi passando e a gravidez não acontecia. Confesso que acho que eu comecei a ficar obcecada com a ideia bem mais cedo do que o Luís. Contava os dias dos ciclos, consultava sites de Internet sobre fertilidade, a toda a hora pensava que tinha que conseguir ficar grávida. Mas... os meses sucediam-se sem que acontecesse. Acho que dois anos depois de ter deixado a pílula, a minha médica me aconselhou um indutor de ovulação, e controlo das ovulações, como método complementar de tentar engravidar. E foi a partir daí que nós "morremos" sem dar conta. Com controlo de ovulação, com mudanças de médico, com diferentes tipos de métodos de potenciar a possibilidade de engravidar... e com sexo com hora marcada.
Deixámos de fazer amor... passámos a fazer sexo para engravidar. Resumia-se a sexo nos dias do período fértil... o resto do mês eu tinha sempre dor de cabeça, ou estava cansada... e como nunca fui de tomar as rédeas do assunto em matéria de sexo, se ele não a tomasse eu também não o fazia. Era sexo do género "vê-lá-se-te-despachas-com-isso-que-quero-dormir"... prazer... sim... até tinha prazer... mas nada por aí além... era sexo normal, e com o tempo passou a sexo medíocre. Mas não foi na vida sexual que nos distanciámos. Fomos deixando de falar... e a dada altura pensei que seria uma boa decisão pensar em adoptar uma criança. Se depois disso engravidasse não fazia mal, afinal não queríamos ter apenas 1 filho... e se fosse uma espécie de bloqueio mental que me impedisse de engravidar, dessa forma desapareceria, e ao mesmo tempo podia resolver a minha "infertilidade" e dar casa a uma criança que dela tanto precisava. Quando falei ao Luís no assunto ele foi contra. Disse que não era capaz de adoptar uma criança, que queria filhos mas era dele, e que uma criança adoptada nunca seria totalmente dele. Que éramos novos, tínhamos tempo, e devíamos continuar a tentar. Foi uma decepção para mim ouvir semelhantes palavras da boca dele... mas calei-me e não voltámos a falar no assunto.
Nesta altura já a distância entre nós era enorme... continuávamos a ter relações apenas em dias agendados pela médica, após determinados tratamentos apenas para potenciar a ovulação, uma vez que dos inúmeros exames médicos a que fui submetida, nunca nada demonstrou que tivesse problemas de infertilidade. O Luís fez um espermograma e também nada de anormal... Penso que por defesa nossa, raramente falávamos no assunto, com medo de magoar o outro, era quase que assunto tabu. Mas todos os meses quando me aparecia a menstruação, era eu que chorava sozinha, que sofria em silêncio a mágoa de mais um mês em que não conseguia.
Cerca de 4 anos após a decisão de engravidar, já eu me sentia desiludida e desapontada com a vida, sentia qualquer coisa dentro de mim que me dizia que nunca ia saber o que é estar grávida... mas aí houve algo mais que me começou a atormentar. Comecei a pensar que talvez se com o Luís não resultava, poderia resultar com outra pessoa... afastei esses pensamentos rapidamente, mas acho que ficaram no meu subconsciente...
Comecei a pensar na minha sexualidade, a avaliar que talvez não me sentisse tão completa como pensava, que talvez precisasse de mais... Afinal o Luís tinha sido praticamente o único homem da minha vida. Ok, tinha tido aquela noite louca com o Nuno, mas foi tudo demasiado rápido... comecei a sentir vontade de experimentar estar com outra pessoa. Chamemos-lhe curiosidade... ou seja lá o que for... o certo é que comecei a pensar em estar com outra pessoa, a olhar para os outros homens de maneira diferentes, sem no entanto nunca pensar que fosse capaz de estar com outra pessoa que não o Luís... sempre achei que não seria capaz de me despir em frente a outra pessoa, de estar com outra pessoal... achei que teria vergonha...
Como que por obra do destino, um dia numa festa de amigos, comecei a falar com um rapaz, com quem nunca tinha falado, mas que se dava com esse grupo de amigos... trocámos endereços de email, e na semana seguinte iniciámos uma amizade cibernética, que nos fazia falar por msn todo o santo dia. Fomos começando por conversas banais sobre trabalho, hobbies... e ás tantas demos connosco a desabafar um com o outro. Eu contei-lhe sobre a minha situação de não conseguir engravidar, ele falou-me da vida dele, dos problemas que tinha ainda por resolver com uma namorada passada com quem viveu, da relação que tinha agora com uma outra namorada, mas que não o preenchia como ele gostaria... Na semana seguinte combinámos um café, um dia depois do trabalho. Encontrámo-nos, e... sem saber porquê e mesmo sem sequer pensar nisso, sei que o meu coração estava aos pulos! Pensei para mim mesma, "Estúpida! Deixa-te de ideias! O que é que um gajo giro como o Carlos ia querer de ti!?"
Conversámos animadamente, rimo-nos imenso juntos, mas a hora de nos separarmos chegou. Eu ía de férias para longe no dia seguinte, e íamos estar duas semanas sem notícias um do outro, ele desejou-me boa viagem, e quando íamos dar dois beijos de despedida... acabámos a dar muitos mais beijos, cheios de desejo um pelo outro. Sabíamos que era errado... eu casada e ele com namorada. Ele era muito carinhoso... pegou-me na mão, abraçou-me e disse-me ao ouvido... "Volta..." Despedimo-nos com um nó terrível no estômago... com um sentimento de perda estupidamente real. Mas como? Afinal só tínhamos tocado meia dúzia de beijos..."